terça-feira, 25 de janeiro de 2011

David Protti


Há uma contradição anterior à fala, quando é, nos foi dado do ilimitado o limitado horizonte, separados os dias e as noites, o nada e o múltiplo, o bruto e as coisas feitas recortadas contra o fundo, informadas pela mão divina, uma divisão anterior ao pecado, à babel, à queda e à esperança da redenção.


Como todos os homens, penado pela parte, condenado aos fragmentos, o fotógrafo armado de seu artificio, a ser marcado em sal e prata, atravessa a sua cidade adotada, ascende aos seus morros, sobrecarregado por lentes, pesos e lembranças, lançada sua vista e sua pele aos ventos e aos ares da beira mar reincidentes.


Repara a imagem retida os pedaços subtraídos ao olho?

Almeja.

Panorama.


Imaginaria ser possível, calçado com as botas de polegar, disposto com as escalas de Gulliver, passar ao largo do imediato continente, pelas partes e pelo todo, esticando quebra-cabeças por entre as nuvens para ultrapassar as duras montanhas, esticar a água, vazar o canal que a tudo contorna, que a tudo abraça e reúne.


São registros horizontais que ambicionam conter o máximo, esticando o restrito foco humano a largas e longas distancias, circulando o olhar contra o permanente mover da cidade e de seus habitantes, diante a estática e imóvel natureza.

Lançada a pedra em funda contra o tonto Golias, retorna vitorioso, David, ao lado dos outros, dos seus, junto à língua e à terra originais.


Poderemos reconhecer cada ponto anotado, desligada a máquina e o instrumento abarcador, submetido, novamente, o corpo às duras penas do limitado caminhante, de músculos e ossos cansados, quando novamente somos envolvidos no afã da vida e do quotidiano?


Sonhemos com a Vitória, desejemos o impossível, avancemos todos à unidade corrompida, cada um com a sua singularidade despedaçada, cada um com suas pernas, mentes e coração.


Caminhemos nesta companhia, da cidade e de sua paisagem, e quando a repetida tarefa nos impor o repetido ritmo da solidão e da melancolia, liberemos a moldura desta tela a outros vôos, rompidas as cordas e os encantos, caminhemos, caminhemos sem saber onde chegar.

Talvez que na volta te encontre no mesmo lugar.




Um comentário:

  1. Amei. Sincero e poético como David Protti e suas fotos que por ele falam e calam a nossa alma. E que vitória foi ter conhecido David. Somos todos gratos: eu, vc e Vitória. Alegria e tristeza. Aliadas? Quase sempre...

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