sábado, 7 de abril de 2012

A cidade metrópole Vitoria

Em um momento de insegurança, em um tempo atual de transição e de mudanças aceleradas, muitos fantasmas rondam a cidade.
Espectros sobreviventes de outras eras e começos.
Novos e inusitados acontecimentos movimentam o cotidiano, eventos inesperados reconfiguram o real, movem as coisas, as pessoas, o poder e as informações e as deslocam de seus lugares fixos. 
A globalização econômica aproxima on line o estranho, o inefável, o impossível. 
Onde apenas um grupo se reconhecia, outros indivíduos invadem as calcadas, bares e restaurantes, tornando estranho o mais próximo. A multidão ocupa as ruas, uma multidão heterogênea, anonima, de cidadãos novos, estimulados pelo prazer imediato, pela satisfação dos novos mundos.
Muitas viagens ocupam o transito e emperram o trafego. São desejos em acelerada circulação, na disputa apressada da ascensão, do dinheiro, da alegria,do consumo. Bloqueios estrangulam os percursos, e afinal “quem são estes que invadem os nossos lugares?”, quem são estes outros que impedem a minha liberdade e lomitam o meu movimento?
Novos compradores, novos outros, novos estrangeiros. 
Estrangeiros de outra fala e de uma outra língua, costumes e tradições, esquecidos após tantas viagens de suas origens.
                                                                                                                                                                                                                                                                                             Uma nova cidade explode suas ruínas em múltiplos fragmentos, que desmontam a ordem e o rigor tradicional, reconfiguram as posturas e as fronteiras, desmancham os pontos e as ligações originais. 
Onde ficaram assentados os antigos pontos de vistas e orientação, onde ficaram registrados os passados fundadores aos recentes viajantes e moradores?  
São visiveis os índices marcados para o navegante, mas significam, agora, alguma coisa para o imigrante, para a nova classe media e para os ricos, para o migrante técnico e para o executivo empresarial? 
Em uma cidade implantada em ilha, recortada pelas montanhas e montes, interrompida pelas águas e canais, a escolha ou a imposição de um ponto de vista é determinante para a  uma orientação e um pertencimento, para um modelo de interpretação e reconhecimento do seu território e lugar.
Assim, estar de frente ou de costas para o mar, morar de um lado ou outro do maciço central,  com pressa ou se extasiando lentamente, são escolhas que ao se diferenciarem e ao proporem posições e velocidades, definem lugares únicos ou melhores, mais certeiros ou mais verdadeiros para a definição de sua situacao social. 
De cada período histórico, sobrevivem partes e permanências, disjunções e continuidades a aproximar os diferentes tempos e historias e a separar singulares posições.
O porto, suas docas e navios, parece ser a marca mais permanente nestas transformações, mesmo com seus diversos cais se ampliando, retificando e orientando o litoral, e suas embarcações sempre presente em nossas vistas cotidianas, seus trabalhadores, suados, compartilhando a nossa vida política e cultural.  O porto permaneceu como ligação com o mundo, como uma tênue linha de contato com as mudanças que foram alterando além mar, levando e trazendo noticias de lá. 
Com o porto de Tubarão, afastados os navios ao horizonte marítimo, continuam presentes, próximo no centro e mais distantes na baia do espírito santo, como um marco da origem e da continuidade da vila portuária fundada pelos portugueses.
Se o porto, suas maquinarias e ritmados movimentos, com materialidade das mercadorias e a fluidez dos ventos  pode representar, em parte, a continuidade da tradição histórica e artificial da cidade, a natureza e suas marcas não seriam também este índice da continuidade e a primeira referência desta permanência imemorial? 
Como o fruto do embate dos imigrantes europeus  com a mata atlântica, ao fazer cortar, desmatar, plantar, onde o ritmo do plantio e da colheita se impõe à lógica do regular ritmo das estações naturais.
Como a racionalidade dos engenheiros de  retificar os limites com o mar, de apropriar os vazios, de ocupar os intervalos, as fronteiras dos mangues, dos morros, de encher os ares, submersas as linhas que antecederam a ação. 
Como a vontade que move os desejos dos jovens, que faz manter junto ao espirito da cidade, junto aos seus espectros, feitos de marcas que o tempo risca sobre as coisas, junto as suas palavras e pedras descarnadas, que faz, diz Agamben, reabrir esta passagem, na qual bruscamente a historia- a vida- cumpre as suas promessas.