domingo, 26 de agosto de 2012

Viva Vitoria


Está esta vila de Vitória  em lugar igualmente defensável e cômodo para a vida humana: cercado de água, habitável por arte, junto ao rio, perto da barra, senhor de pescarias e mariscos sem número. Seus arredores são terra fértil, capaz de grandes canaviais e engenhos, seus campos amenos, retalhados de rios e fontes, suas matas recendem, são delicias de cheiros, bálsamos, copaíbas, sassafrazes, seus montes estão prenhes de minas de varia sorte de pedrarias, e segundo dizem, de prata e ouro, e será feliz o tempo em que saiam a luz com seu parto".
Simão de Vasconcelos, Crônica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil,  In História do Estado do Espírito Santo, de José Teixeira de Oliveira.  Vitória, 2o edição, 1975.

sábado, 19 de maio de 2012

Tarde demais

Mas será tarde demais;
e eu seguirei sem voz
entre os homens que não se voltam,
com o meu segredo.

Eugenio Montale

sábado, 7 de abril de 2012

A cidade metrópole Vitoria

Em um momento de insegurança, em um tempo atual de transição e de mudanças aceleradas, muitos fantasmas rondam a cidade.
Espectros sobreviventes de outras eras e começos.
Novos e inusitados acontecimentos movimentam o cotidiano, eventos inesperados reconfiguram o real, movem as coisas, as pessoas, o poder e as informações e as deslocam de seus lugares fixos. 
A globalização econômica aproxima on line o estranho, o inefável, o impossível. 
Onde apenas um grupo se reconhecia, outros indivíduos invadem as calcadas, bares e restaurantes, tornando estranho o mais próximo. A multidão ocupa as ruas, uma multidão heterogênea, anonima, de cidadãos novos, estimulados pelo prazer imediato, pela satisfação dos novos mundos.
Muitas viagens ocupam o transito e emperram o trafego. São desejos em acelerada circulação, na disputa apressada da ascensão, do dinheiro, da alegria,do consumo. Bloqueios estrangulam os percursos, e afinal “quem são estes que invadem os nossos lugares?”, quem são estes outros que impedem a minha liberdade e lomitam o meu movimento?
Novos compradores, novos outros, novos estrangeiros. 
Estrangeiros de outra fala e de uma outra língua, costumes e tradições, esquecidos após tantas viagens de suas origens.
                                                                                                                                                                                                                                                                                             Uma nova cidade explode suas ruínas em múltiplos fragmentos, que desmontam a ordem e o rigor tradicional, reconfiguram as posturas e as fronteiras, desmancham os pontos e as ligações originais. 
Onde ficaram assentados os antigos pontos de vistas e orientação, onde ficaram registrados os passados fundadores aos recentes viajantes e moradores?  
São visiveis os índices marcados para o navegante, mas significam, agora, alguma coisa para o imigrante, para a nova classe media e para os ricos, para o migrante técnico e para o executivo empresarial? 
Em uma cidade implantada em ilha, recortada pelas montanhas e montes, interrompida pelas águas e canais, a escolha ou a imposição de um ponto de vista é determinante para a  uma orientação e um pertencimento, para um modelo de interpretação e reconhecimento do seu território e lugar.
Assim, estar de frente ou de costas para o mar, morar de um lado ou outro do maciço central,  com pressa ou se extasiando lentamente, são escolhas que ao se diferenciarem e ao proporem posições e velocidades, definem lugares únicos ou melhores, mais certeiros ou mais verdadeiros para a definição de sua situacao social. 
De cada período histórico, sobrevivem partes e permanências, disjunções e continuidades a aproximar os diferentes tempos e historias e a separar singulares posições.
O porto, suas docas e navios, parece ser a marca mais permanente nestas transformações, mesmo com seus diversos cais se ampliando, retificando e orientando o litoral, e suas embarcações sempre presente em nossas vistas cotidianas, seus trabalhadores, suados, compartilhando a nossa vida política e cultural.  O porto permaneceu como ligação com o mundo, como uma tênue linha de contato com as mudanças que foram alterando além mar, levando e trazendo noticias de lá. 
Com o porto de Tubarão, afastados os navios ao horizonte marítimo, continuam presentes, próximo no centro e mais distantes na baia do espírito santo, como um marco da origem e da continuidade da vila portuária fundada pelos portugueses.
Se o porto, suas maquinarias e ritmados movimentos, com materialidade das mercadorias e a fluidez dos ventos  pode representar, em parte, a continuidade da tradição histórica e artificial da cidade, a natureza e suas marcas não seriam também este índice da continuidade e a primeira referência desta permanência imemorial? 
Como o fruto do embate dos imigrantes europeus  com a mata atlântica, ao fazer cortar, desmatar, plantar, onde o ritmo do plantio e da colheita se impõe à lógica do regular ritmo das estações naturais.
Como a racionalidade dos engenheiros de  retificar os limites com o mar, de apropriar os vazios, de ocupar os intervalos, as fronteiras dos mangues, dos morros, de encher os ares, submersas as linhas que antecederam a ação. 
Como a vontade que move os desejos dos jovens, que faz manter junto ao espirito da cidade, junto aos seus espectros, feitos de marcas que o tempo risca sobre as coisas, junto as suas palavras e pedras descarnadas, que faz, diz Agamben, reabrir esta passagem, na qual bruscamente a historia- a vida- cumpre as suas promessas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ser chic e ser capixaba.1


Acabado o carnaval, de volta a afazeres comuns, sobra perguntar se o enredo e a vitoria da escola de samba de Cariacica, a Boa Vista, se acabaram na quarta feira de cinzas ou se eles nos podem fazer pensar da possibilidade de superarmos nosso histórico, subordinado  e atrasado provincianismo capixaba.
Condenados a periferia parece ser o refrão, descrito pelos observadores que tentaram representar os processos de formação e constituição, cultural, económica, social e política, do estado do Espirito Santo. 
Uma longa condenação que por séculos deserdou nossas inteligências e talentos, limitou nossas alternativas e produções, prostrou expectativas e projetos, fracassou antecipadamente múltiplos desejos e utopias. 
Uma condenação, que se em parte foi imposta pelos poderes externos, de outra foi assumida, senão aceita, desde que atendesse seus imediatos interesses, pelas elites políticas e económicas locais.
Cantando o orgulho de ter nascido ou optado de ser um capixaba, de participar da construção de um espaço e um lugar comum, as escolas de samba reconheceram as transformações que movimentam e revolucionam o Espirito Santo, onde a expansão da nova classe media trabalhadora, fruto do crescimento económico e da transferência de renda tem levado a publico, tanto cultural como político, atores que historicamente ficaram excluídos ou marginalizados da vida local. 
Este orgulho reconhece e valoriza uma espécie de cidadania regional, de proximidade e solidariedade, que sempre foi desprezada pelas elites locais, subordinadas aos gostos e valores dos grandes centros urbanos, nacionais ou internacionais.
Neste momento se mostra uma profunda contradição entre a postura provinciana do poderes locais e a fala ainda mal articulada dos setores populares, de seus desejos e vontades que ainda nao encontraram uma potência coletiva que manifeste e realize uma ruptura com as formas arcaicas e conservadoras na (re)constituição do território e da vida coletiva.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

aeroporto

na sala de espera compartilho a expectativa da partida,
olho as nuvens se movimentando,
e o brilho do sol de sabado refletindo brilhos e vozes infantis sobre o piso de marmore.
boa viagem.