quinta-feira, 8 de março de 2012

Ser chic e ser capixaba.1


Acabado o carnaval, de volta a afazeres comuns, sobra perguntar se o enredo e a vitoria da escola de samba de Cariacica, a Boa Vista, se acabaram na quarta feira de cinzas ou se eles nos podem fazer pensar da possibilidade de superarmos nosso histórico, subordinado  e atrasado provincianismo capixaba.
Condenados a periferia parece ser o refrão, descrito pelos observadores que tentaram representar os processos de formação e constituição, cultural, económica, social e política, do estado do Espirito Santo. 
Uma longa condenação que por séculos deserdou nossas inteligências e talentos, limitou nossas alternativas e produções, prostrou expectativas e projetos, fracassou antecipadamente múltiplos desejos e utopias. 
Uma condenação, que se em parte foi imposta pelos poderes externos, de outra foi assumida, senão aceita, desde que atendesse seus imediatos interesses, pelas elites políticas e económicas locais.
Cantando o orgulho de ter nascido ou optado de ser um capixaba, de participar da construção de um espaço e um lugar comum, as escolas de samba reconheceram as transformações que movimentam e revolucionam o Espirito Santo, onde a expansão da nova classe media trabalhadora, fruto do crescimento económico e da transferência de renda tem levado a publico, tanto cultural como político, atores que historicamente ficaram excluídos ou marginalizados da vida local. 
Este orgulho reconhece e valoriza uma espécie de cidadania regional, de proximidade e solidariedade, que sempre foi desprezada pelas elites locais, subordinadas aos gostos e valores dos grandes centros urbanos, nacionais ou internacionais.
Neste momento se mostra uma profunda contradição entre a postura provinciana do poderes locais e a fala ainda mal articulada dos setores populares, de seus desejos e vontades que ainda nao encontraram uma potência coletiva que manifeste e realize uma ruptura com as formas arcaicas e conservadoras na (re)constituição do território e da vida coletiva.