quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

capixaba.2

Escrevi este texto, em marco/ 2012, depois do carnaval. 
Quase dois anos depois, me pergunto se ainda nos mantemos nos arranhando, feito caranguejos, a casca dura do atraso e do provincianismo, 
debatendo-se, afogado em nossas reles opinioes e frouxos desejos.
k

Acabado o carnaval, de volta a afazeres comuns, sobra perguntar se o enredo e a vito'ria da escola de samba de Cariacica, a Boa Vista, se acabaram na quarta feira de cinzas ou se eles nos podem fazer pensar da possibilidade de superarmos nosso histórico, subordinado  e atrasado provincianismo capixaba.
Condenados a periferia parece ser o refrão, descrito pelos observadores que tentaram representar os processos de formação e constituição, cultural, económica, social e política, do estado do Espirito Santo. 
Uma longa condenação que por séculos deserdou nossas inteligências e talentos, limitou nossas alternativas e produções, prostrou expectativas e projetos, fracassou antecipadamente múltiplos desejos e utopias. 
Uma condenação, que se em parte foi imposta pelos poderes externos, de outra foi assumida, senão aceita, desde que atendesse seus imediatos interesses, pelas elites políticas e económicas locais.
Cantando o orgulho de ter nascido ou optado de ser um capixaba, de participar da construção de um espaço e um lugar comum, as escolas de samba reconheceram as transformações que movimentam e revolucionam o Espirito Santo, onde a expansão da nova classe trabalhadora, fruto do crescimento económico e da transferência de renda tem levado a pu'blico, tanto cultural como político, atores que historicamente ficaram excluídos ou marginalizados da vida local. 
Este orgulho reconhece e valoriza uma espécie de cidadania regional, de proximidade e solidariedade, que sempre foi desprezada pelas elites, subordinadas aos gostos e valores dos grandes centros urbanos, nacionais ou internacionais.
Neste momento se mostra uma profunda contradição entre a postura provinciana do poderes, politicos e econômicos, e a fala ainda mal articulada dos setores populares, de seus desejos e vontades que ainda nao encontraram uma potência coletiva que manifeste e realize uma ruptura com as formas arcaicas e conservadoras na (re)constituição do território e da vida coletiva.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

J'ubilo1

Júbilo.word
Contrapor  a alegria do ser a miséria do poder.
Car je serai plonge’ dans cette volupte’
D’ evoquer le Printemps avec mon volonte’,
Tirer un soleil de mon coeur.
Baudelaire...
O júbilo e’ uma forma de alegria, e’ uma expressão que encontra no mundo uma resposta, e’ uma ação que se soma a outras, que encontra uma correspondência, o júbilo e’ uma coisa plena, positiva. 
Júbilo e’ um grande contentamento, e’ uma alegria intensa, e a palavra jubileu designa como uma trombeta, jobe, que de 50 em 50 anos anunciava o ano festivo judeu, o jubileu, quando por indulgencia divina se fazia a remissão de todas as dividas, das culpas e da servidão.
Alegria intensa, jubilo e’ também uma força, potencia de criar, um momento de  superabundância, de um claro excesso, talvez uma das formas de melhor definirmos a Deus.
Seguros e confiantes, nestes momentos especiais permanecemos jubilosos diante dos outros e do mundo, partes e totalidades da criação coletiva, sagrada e profana, da potencia do excesso do amor, da arte, da ciência e da política.
A sensação de insegurança pública, na forma de um pânico social, e sua determinação política repressiva e segmentadora da cidade e das coisas, representam não apenas uma arma política, mas uma redução, uma destruição do mundo do desejo na direção da miséria da vida, da usura de viver a vida. Comenta algo assim, Toni Negri  em uma entrevistas.

A seu  alcance, mas ainda não alcançado,
O perfeito objetivo do desejo,
Não mais perto
Por medo do Real
Deve libertar sua alma.
Emily Dickison
Poema 1430

A experiência da cidade, de mergulhar, desorientado  como um andarilho, nas suas diversidades de ruas e multidão, em seus tempos e matérias fragmentadas, pode se constituir em si um júbilo. Um prazer, único, sem origem, feito de pura contemplação, que extravasa no contato real com a cidade, onde os sentidos expandidos roçam suas coisas, chocam-se com suas paredes e rituais, admirando  e vivendo imediatas alegrias, em tantos cheiros e gostos, tantos ruídos, tantas vistas e movimentos múltiplos experimentados.
Nunca podemos explicar e justificar uma cidade, ela esta’ ai, ela e’ o nosso espaço do artifício, onde nascemos, respiramos e crescemos, e nela, nos seus cercados limites, não ha’ nada de inumano. Gosto de minha cidade, mas não sei exatamente o que gosto dela, comenta Georges Perec, não creio que seja o odor, e aos seus monumentos já’ estou bastante acostumado. ” Gosto de certas luzes, de algumas pontes, de terraços de café’, gosto de passar por um lugar que não vejo a algum tempo”, completa.
Abandonados a anos, estes sítios, longamente esquecidos por no’s, quando revisitados são os pontos de referencia para o registro das experiências da memória, individual e coletiva, são  pontos topográficos que tecem, ancoram uma rede de recordações, passados e presentes que capturam e transformam a alegria cotidiana do ambulante urbano. Mesmo o estranho, o inaudito, o que mais choca e incomoda, o que apresenta e expõe as chagas da sociedade, faz parte deste véu de anotações, que reúne sem aparentes ordens estes fragmentos urbanos, na superposição de nossas atuais e futuras ruínas.
Em cada tempo, em cada visada, em instantes diferentes, uma ou outra  organização se apresenta e  logo escapa ao olhar investigador, foge ao corpo desejante que avança sobre  e dentro da multidão urbana. O calor me ocupa, me invade aos poros, o desejo extasia as dores múltiplas destes órgãos ambulantes, aos insatisfeitos moradores, muitos são os seus dolorosos caminhantes, e felizes são os amantes deslizando abraços e beijos sob a marquise iluminada do hotel. 
Mas que expõem, para quem expõem estas incompreensíveis  totalidades que, insaciáveis, buscam compreender seu destino, comemorar as suas origens, de longe esquecidas seus primeiros esforços impressos sobre os corpos dos outros e a palidez verde da mata?
E como, no’s,  profissionais do futuro, desenhamos ambiciosos seus traços venturosos, sem saber como conseguir conter ou ampliar  sua multidão de desejos? 
Em quais pedras. recolher suas verdadeira faces, em quais paredes, amassar os sonhos, em quais linhas retas, sustentar o ambicioso risco da simetria real, inovar as doces curvas dos salões, revestir em granito duro os pisos dos caminhos e chegadas? 
Alegria e’ gratuidade, nos alegramos mais plenamente com as coisas que nos foram ofertadas, ao menos em parte, pela providencia, que nos foram concedidas pela fortuna, pela sorte, pelo amor, pela graça. Nos alegramos com o sucesso e o imprevisto dos eventos, mesmo quando nos esforçamos muito para os conquistar, quando, por um milagre, algo no mundo, um dom,  de repente pousa e transforma o cotidiano de nossas vidas, e um acontecimento fiel rompe o limite do possível.
Que me cole a língua
caso eu não me lembre de ti,
caso eu não eleve Jerusalém ao topo de minha alegria!
Salmo 137
A alegria e’ uma das paixões, uma categoria e uma construção ocidental medieval, quando a paixão, para Tomas de Aquino, e’ algo que acontece a uma pessoa, onde ela e’ passiva, e para ele, a alegria e’ uma seqüência que conduz do amor em direção ao objeto, ao desejo. Em um final feliz, o amor com o desejo atinge a alegria, na união da alma com o seu objeto, um estado onde o desejo e vontade estão ou estarão satisfeitos.
A alegria e’ a primeira entre todas as paixões, uma paixão que se realiza pelo retorno, pela reminiscência da totalidade, em um duro paradoxo, entre a perda e o restabelecimento, entre a dispersão e a concentração naquilo que e’ inefável, indizível.
as coisas de outrora não serão lembradas
nem tornarão a vir ao coração.
Alegrai-vos.pois, e regozijai-vos para sempre
com aquilo que vou criar :
Eis que farei de Jerusalém um jubilo
e do seu povo uma alegria .
Isaias 65
Quem vai poder (re)criar esta cidade onde não mais se tornara’ a ouvir choro nem lamentação? 
Por acaso Deus corrigira’ os erros humanos na construção da cidade terrena, somente quando do reino do fim dos tempos, ou os homens ainda terão a oportunidade, agora, nos  curtos limites do tempo humano, de refazer, a corrigir, na alegria coletiva, os projetos desperdiçados, os erros acumulados, pedra sobre a pedra desde a multidão de línguas da torre de Babel?
Na antítese destruição/ construção, na oposição da perda e do reencontro, se expõe a esperança da jubilação, na tensão da perda e da tristeza, da alegria e da felicidade, cabendo aos homens no pensar e fazer do desenho e da construção, fazer a nova cidade sobre a velha cidade, conferindo plenitude ao tempo histórico, cumprir o tempo da redenção.
Fazer do futuro um recuperação, uma ressurreição do passado, uma redenção das suas muitas lutas perdidas, de uma seqüência de perdas, um perder de varias batalhas para vencer a batalha final, “de derrota em derrota  ate’ a vitoria final”, disse Mao, e’ possível somente na medida que não apenas vemos, mas também desejamos esta vitória.
O passado não e’  visto assim na forma  de uma saudade melancólica, de um acumulo de perdas de acontecimentos vazios e objetos fetiches, mas como um receptáculo de eventos fracassados, de projetos desperdiçados, e nas suas ruínas e partes aparentemente desconexas podem estar, prontos para serem recuperadas, no brilho do tigre, as esperanças e os sonhos de uma emancipação radical da humanidade.
Mas ao mesmo tempo, o que ainda sobrevive, amplamente vitorioso, e’ que estampa, em suas faces ganhadoras, protegidas e registradas, o sofrimento e a exploração dos derrotados, que deixaram impressas em suas pedras as marcas do trabalho e do esforço material e imaterial. 
Onde estarão as verdadeiras peças do autentico patrimônio coletivo, onde se esconderão as marcas  e os cortes das ferramentas, a serem novamente usadas e transformadas? 
Quais as formas, em suas perenidade, na sua pulsão de morte, na sua perene incrustação no solo original, quais a formas a serem mixadas, na carnavalização de um evento, em uma imposição  de um novo mundo? 
Quais as matérias duras, brutas e acabadas, suavizadas pelas mãos dos trabalhadores, escondendo em suas aparências, as origens da exploração e do sofrimento? Mas que matérias florescerão em suas potencias resguardadas em seus sítios naturais, no ventre da terra, nas suas esgarçadas matas e fabricas?
Um novo mundo, que e’ possível, que desvele as suas aparências particulares e neste intervalo vazio permita gerar novos nomes  e novos lugares que “ trarão `a vida o mundo desconhecido que esta’ a nossa espera porque esperamos por ele” 
Ser, mundo, evento.
Mas e se o futuro ao qual se deve ser fiel for o futuro do próprio passado, em outras palavras, o potencial emancipato'rio que não se realizou por causa do fracasso das tentativas passadas  e, por esta razão, continua a nos perseguir?” diz Zizek, e continua : o excesso do entusiasmo revolucionário... e’ portanto, o de um futuro do/ no passado, “um evento espectral que aguarda sua encarnação apropriada.” Neste ponto, Slavov Zizek recorre a elaboração de Deleuze sobre a repetição como a forma mesma do surgimento do novo, ou como Alain Badiou, quando desenvolve o conceito de ressurreição, como uma destinação subjetiva de um evento, uma total reativação de um acontecimento cujos traços foram obliterados ou apagados, onde “ todo sujeito fiel pode reincorporar `a sua presença evantal um fragmento da verdade, que foi enterrada por baixo da barra da ocultação” . E’ esta reincorporacao que ele, Badiou, chama de ressurreição.
Recolher, separar, deixar valer uma memória que não se submeta `as ordens imperiosas do arquivo e da história oficial, uma memória ancorada nas falas abafadas coletivas, nas fluidas transmissões orais, de mãe para filha, dos incessantes fazeres e cantos manipulados, uma memória de muitas festas e procissões, onde os pequenos acontecimentos se movimentaram nos estreitos intervalos da dura cidade. 
Mas como escolher? 
Como em cada momento fazer a opção mais fiel ao desejo inovador?
Haverão réguas e traços que meçam ultrapassem, que tratem da essência dos lugares, da origem, limites e começos desta segunda natureza que nos abriga e nos engana?
Voltemos a origem.
Muro, vão, limite e abertura, a cabana inicial nem precisa de uma cobertura se o clima for gentil e as estrelas cobrirem em manto o sono primordial. Mas como as noites são frias, o vento e a chuva precisam também serem contidos por um teto, que completa a proteção. Muro, vão, cobertura. 
A  casa de Adão. E de Eva.
Dentro e fora. Para o amigo ou para o estrangeiro, o abrigo ou a muralha para a guerra.  Limitar o sitio.
Mas os limites da casa, da propriedade se estende alem, além das pastagens e culturas, se limita a distancia do olhar ao  horizonte do fim do mundo.
Os vãos, janelas para o recorte do mundo, fazem molduras para guardar, reservar a paisagem, destacar a segunda natureza plantada e inventada, as altas torres, ao longe, anunciam a cidade e a diversidade urbana.
Na urbs, a fundação violenta o sitio original, aprofunda a marca sobre o solo, delimita os muros que protegem e separam os nossos pares, cidadãos, dos bárbaros estrangeiros. No seu interior as ruas ligam os portões `as praças, largos e campos, onde as feiras e os debates separam e unem os cidadãos. 
Conheço vilas e cidades, grandes e pequenas, metrópoles globais e províncias isoladas, lugares de imensas  multidões e locais de solidões, vistas de belos edifícios, palácios e catedrais, de parques e jardins esplendorosos mas também conheço miseráveis bairros, casas e becos abandonados e pobres.
Conheço maravilhas desenhadas, de perspectivas admiráveis, onde Netuno navega sua biga sobre o lago e o rei sol brilha nas aléias e nos laranjais dourados, Marco Aurélio cavalga no umbigo do mundo, e as altas colunas em quádrupla formação centralizam e abrigam a cristandade. Conheço opacas ruínas  em tijolos e pedras e novos reflexos em aço e cristal brilhantes. 
Conheço, de passagem ou de fixação, conheço o que se liga e o que se apaga, mas também o que se sonha e se deseja.
Mas como, que método usar para destes inúmeros fragmentos recolher o que logo se anuncia brilhante? E  se será possível somar estas partes, como separar o mais belo e factível, e ir montando, peca a peça, o puzzle, arrumar em novas ordens compreensíveis a potencia instalada.

abril/ maio 2011
kleber frizzera


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Tenho

da pitangueira, da morna tarde, da noite quente,
do vento arisco,
da nuvem de  poeira, 
uma indelével marca no meu corpo.


sábado, 24 de agosto de 2013

a tristeza infinita


Quando eu esperava pela felicidade, 
era a infelicidade que se aproximava.
Quando eu esperava encontrar a luz..... 
defrontava-me com as trevas.
Jo’ 30, 26


Cada vez mais perco o interesse pelos grandes fatos, históricos ou nao, que tentam, mudam ou nao mudam o curso do mundo, suas invenções e interpretações, paixões, empenhos e mobilizações. Também nao mais ligo suficiente para os mais recentes, tao próximos de nosso tempo que tornam-se insípidos ao olhar, e somente para os comentaristas interessa, em busca de uma ordem, regra ou lei que determine algum sentido as suas partes e pedaços isolados, e podem ter algum relevo.
Aprecio os antigos mitos, o sol de Apolo, a maldição de Jeremias, a pura ficção, o amor de Romeu e Julieta, a lembrança sem fim de Proust e os mínimos e corriqueiros fatos do cotidiano. Tao insignificantes, banais, que nem seus personagens percebem a sua existência e seu pulso, pequenos e rápidos que em um piscar se dissolvem contra o mar.
Como a tristeza infinita das mulheres, que no final da tarde, cansadas de trabalho inútil, esvaziam os seus olhares a espera do ônibus, fazendo costas para o oceano e o ce’u. Sao muitas, inúmeras, uma se’rie de mulheres, feias, mal arrumadas, os corpos disformes, a maioria negras. Enquanto aguardam, nao conversam entre si, silenciosas, desconhecidas que sao do mesmo sofrimento e da mesma dor compartilhadas. 
O que as espera no lar? Mais uma jornada, mais uma tristeza, filhos e perversos maridos.
Nao ha’ honra ou qualquer escolha para estas mulheres, nem imortalidade e lembrança, nem longa vida nem marcas de vitorias em suas maos nos moveis, nas roupas, nas comidas, e pouco, quase nada.  
Que nos resta, atual a sina da solidão e esvaziada a solidariedade, que soubemos fazer de nossos confortos e desilusões?
Que nos resta das mulheres infelizes?
Infinitos abandonos.

domingo, 30 de junho de 2013

A cidade infeliz.


em seus olhos, vejo minha perda escrita
racine


Sombreada pelo morro da fonte grande, cedo `a escuridão que ocupa as ruas, pessoas e fatais orgulhos na tarde fria, e faz de cinza os cheiros de brisa, impregnando de tristeza as faces da cidade de vitoria.
Uma surpreendente melancolia ocupa os corpos, pesa o espirito e congela a emoção, o olhar desfeito, em um cansaço banal, brutal, que enrola a língua, impede a fala e entrava a conversa. 
Negro abismo.
Da ausência ou da nevoenta historia, de índios e degredados, listas de escravos e imigrantes no cais, determino, assim espero, improvisado um caminho acima, uma previsão incerta. Mas logo desisto, diante da inquieta  e renovada feira de ilusões e vaidades, de encobertas( produzidas?) nuvens e tufões. 
Tempestades.
Consciente afasto o morto, preservando em ângulos e orientações a fresca do vento e a ponta formosa.
Mas nao basta tanto esforço e decisão. Sobraram restos, de todos umas partes e das ruínas nas velhas casas, nivelados os seus solos `as modernas presenças, restam os espíritos e os fantasmas da ordem original, do escuro primordial. 
Rimos, de desesperanças, de vazias ambições e desejos, insatisfeitos permanentes que somos do adiado consumo e do prazer incompleto. 
Gritamos imprecações, mas nao ha’ saída possível ao beco escuro e `a longa sombra que se espalha ponto a ponto, sem fim ou limites, sem controle sobre a cidade.
Pressentimento de luto.


kleber frizzera
30/ 06/ 2013

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sitio dos tempos


Numa famosa carta a Walter Savage Landor, Wordsworth expressou uma preferência por visões em que as margens das coisas se dissolviam, com toda fixidez e densidade postas em fluxo, com os limites recuando e as expectativas vindo à luz. 
Os sítios do tempo não são momentos do lugar, nem ocorrem em um lugar. 
As crenças podem se localizar num santuário ou num local similar, mas frutificações demandam um continuum temporal. 
A fonte de cenas e de sons não é um topos, mas um acontecimento que se estende por duas épocas e conserva vivo o passado no presente.
Harold Bloom

segunda-feira, 4 de março de 2013

A diferença ou a identidade



Capixabas
Seremos tão pouco diferentes, a apresentar aos viajantes insuficientes e repetidas paisagens, vazias de novidades e surpresas,
Somos tao iguais, repetindo a exaustão semelhantes identidades, sem singularidades, sem particulares situações a surpreender nossos vizinhos?
Ou talvez, neste jeito calado de ser, feito de barrocas metáforas e vidas incompletas, mal nos reconhecemos como únicos e aos outros, tão diversos, não abrimos nenhuma porta ao encontro e ao conflito casual ?
Afinal somos tão pouco iguais ou tão pouco diferentes, que para ninguém interessa este local ?
E o que tem a ver a escolha do território, seus limites, seus recintos, a história e seus eventos registrados em edifícios e ladeiras, com este modo de ser ?
Estarão selados, indeléveis em suas faces, marcados em seus pisos, estes nossos desígnios naturais ? 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Avenida Vitoria



Para onde caminha esta cidade, 
onde seus trilhos apontam em direção ao infinito, onde
os postes, em fila, organizam a paisagem e o olhar,
e, altaneiro, o morro da Fonte Grande delimita o horizonte?
Para onde caminham os seus,
os nossos,
os outros depois, os novos outros,
o braco forte,
para onde caminha esta cidade?

kleber frizzera
fevereiro 2013