sábado, 24 de agosto de 2013

a tristeza infinita


Quando eu esperava pela felicidade, 
era a infelicidade que se aproximava.
Quando eu esperava encontrar a luz..... 
defrontava-me com as trevas.
Jo’ 30, 26


Cada vez mais perco o interesse pelos grandes fatos, históricos ou nao, que tentam, mudam ou nao mudam o curso do mundo, suas invenções e interpretações, paixões, empenhos e mobilizações. Também nao mais ligo suficiente para os mais recentes, tao próximos de nosso tempo que tornam-se insípidos ao olhar, e somente para os comentaristas interessa, em busca de uma ordem, regra ou lei que determine algum sentido as suas partes e pedaços isolados, e podem ter algum relevo.
Aprecio os antigos mitos, o sol de Apolo, a maldição de Jeremias, a pura ficção, o amor de Romeu e Julieta, a lembrança sem fim de Proust e os mínimos e corriqueiros fatos do cotidiano. Tao insignificantes, banais, que nem seus personagens percebem a sua existência e seu pulso, pequenos e rápidos que em um piscar se dissolvem contra o mar.
Como a tristeza infinita das mulheres, que no final da tarde, cansadas de trabalho inútil, esvaziam os seus olhares a espera do ônibus, fazendo costas para o oceano e o ce’u. Sao muitas, inúmeras, uma se’rie de mulheres, feias, mal arrumadas, os corpos disformes, a maioria negras. Enquanto aguardam, nao conversam entre si, silenciosas, desconhecidas que sao do mesmo sofrimento e da mesma dor compartilhadas. 
O que as espera no lar? Mais uma jornada, mais uma tristeza, filhos e perversos maridos.
Nao ha’ honra ou qualquer escolha para estas mulheres, nem imortalidade e lembrança, nem longa vida nem marcas de vitorias em suas maos nos moveis, nas roupas, nas comidas, e pouco, quase nada.  
Que nos resta, atual a sina da solidão e esvaziada a solidariedade, que soubemos fazer de nossos confortos e desilusões?
Que nos resta das mulheres infelizes?
Infinitos abandonos.

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