sexta-feira, 4 de julho de 2014

Flores do mal


Vejo muitos medos e angustias, preocupações e inseguranças nas faces burguesas, leio e ouço nos becos e colunas um ruído surdo, que ocupa os lares e as falas; sinto uma tensão no ar, uma pressa, uma urgência na cidade, mas quem são e de onde vem estes bárbaros, estes outros que incomodam tanta gente?
Quem são estes milhões, multidão que invade as nossa metrópoles, suja as nossas ruas e ocupa as nossas praças e praias com seus insensatos desejos, com seus impossíveis sonhos e suas enormes aflições?
Quem são estes estrangeiros que invadem o nosso mundo, em massa, inundam os nossos lugares com as suas novas aquisições, com seus carros brilhantes , seus bens e vestimentas de marca, enchendo em gritos os bares e os shoppings, se multiplicando em bandos familiares, deslocando-se em aplicadas tropas de jovens e de velhos?
Quem são estes que abandonam os seus sítios originais, e movendo sem ordem, filas e educações, caminhando sem princípios e fins, desconhecem as praticas e conhecimentos civis, quem são aqueles que deslocam com pressa, altivos, barulhentos e brutais, sem pátria e sem lei?
Não haverá chefes e comandantes neste exercito entusiasmado pelas  noites de sábados, pelos churrascos em domingos e dias de feriados, acelerados, seus corpos e espíritos, pelos inúmeros shows e espetáculos, animados pela musica ritmada das festas, dos ritos e comemorações?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Aqui e ali



Fora do alcance imediato, e’ sempre logo ali, se aproximando, antecipado aqui, jogados, `a mesa, os dados e enigmas, cartas como surpresas, que conseguimos superar, abrir a porta ou pular o muro, dobrar a próxima esquina, acompanhar o som ou o cheiro da dor que mergulha, em suor, na multidão que ronda, indecente, a viagem despida.
Uma cidade, pelo movimento, desenhada no caminho, as suas ruas, eixos, visadas e brilhos, para os deslocamentos dos que levam sentido, vida e meia, passo a passo, em direção, e como, ao prazer e a emoção.
21/06/2013
carnaval
15/02/2015

sábado, 18 de janeiro de 2014

Do mal artificial1


Diante das catástrofes, naturais ou frutos das ma'quinas, diante do imprevisto e do inominável, na presença da impotência humana frente os mais destrutivos eventos, nos perguntamos de quem e’ a culpa, qual o responsável, quais as origens de tanta dor e desespero.

Na ausência divina, inventamos um mal, que instrui o fogo, que alimenta as aguas, que sopra os turbilhões de ventos e tempestades, que estimula as desgraças anunciadas e nunca antecipadas, um mal que não e' natural. 
Se não podemos lançar esta responsabilidade na natureza, insensível nas suas leis e determinações, se Deus permanece uma promessa, buscamos as causas nos homens, nas suas ganâncias e  imprevidências, nos seus pecados que ocasionam estes sofrimentos.

Homens e mulheres, em bando, são então indicados `a punição por suas ações irresponsáveis e imorais, expostos `a dura e pu'blica execração por seus crimes, julgados e condenados de antemão `as provas e circunstâncias.
Porque precisamos do mal para explicar as coisas do mundo?

23.12.2013
13.02.2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

O risco da representação

O risco inerente a qualquer processo de representação, ao definir e conceituar a realidade para agir , para ampliar o poder humano sobre o mundo, e’ “ aquele que consiste em tomar a definição pela realidade”.   
Deslocado do objeto, a representação se apresenta como uma idolatria, onde as imagens, os ídolos, ocupam o lugar das coisas e dos fatos, se desviam dos fenômenos e apenas como uma aparência se expõem a admiração dos homens.
Sombras desfilam incontidas suas partes e desfeitas unidades, fracionados os pedaços de suas incompletas estruturas, dispostos `as múltiplas e `as diversificadas interpretações.

Onde se coloca a capacidade original  da linguagem em nomear as coisas, soma-se a falta da representação política, de prover a transferência de um desejo ou uma insatisfação subjetiva para a fala de um outro sujeito, por delegação, para discursar e decidir em nome , impotente em acompanhar a continua transformação dos negados gozos, em tempos cada vez mais curtos, de estreitas e limitadas esperanças. 

Saudades da aristocracia palaciana, republicana, com sua tolerancia postura, e 
( in)devidos compromissos públicos?

Onde suporta o tempo as diversas marcas e se alinha ao fraco, 
onde sustenta o seu corpo e a solidão dos teus olhares , 
dos gritos informes, da imediata exaustão?
Infinitas tristezas.

alterado em outubro 2015