Acompanhar, a
uma certa ou prudente distancia,
as ações e deslocamentos dos atores locais, em seus diversos níveis de
influencia, poder e manifestação, sejam eles públicos ou privados, me alivia o
envolvimento da decisão cotidiana e me permite apontar, ou ao menos tentar, a
critica dos seus procedimentos e intenções.
Uma posição na
mesa de reunião, um movimento do corpo, das mãos, a flexão velada da fala, o
gesto de reconhecimento ou cumprimento ou a distinta recusa me expõem, como o
tom da gravata, os reais, serão eles reais?, interesses que o discurso
escamoteia ou emite em limitada parte ou diapasão.
Alguém anota
com estudado cuidado uma data na agenda, um outro um rabisco sem sentido no
papel em branco, e um documento, um mapa que circula a mesa e desperta
preocupação, traz uma surda provocação, uma resposta evasiva, e assim a
reunião, em seus altos e baixos, chega ao fim, oponentes e aliados, uma decisão
em aberto a negociação futura, alguns recados deixados no ar, ameaças e
desafios.
Qual a ordem
oculta deste malabarismo?
Lucro, poder,
ideologia?
Quem representa
quem, a que serve esta pantomima sem palco, que pode decidir futuros
alternativos para o capital e para o trabalho, produzir uma nova situação e
reposicionar poderes e lucros?
De um lado, o
poder político, feito da árdua disputa eleitoral, dos compromissos públicos, são
temporários ocupantes.
Do outro lado,
ou do mesmo lado da mesa, o capital se move sorrateiro, nas brechas, nos
desvios, buscando o caminho mais rápido para manter e ampliar os seus lucros, armada
a lógica obtusa por entre os dentes afiados do caçador.
Onde se enfia,
avestruz, o observador?
Desaparecida em
nuvens a arquibancada, a cadeira, o suor, o entusiasmo da boa batalha,
Da boa vida,
Da boa.
Confirmado em maio 2015
Confirmado em maio 2015